quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Eu estava ali parado,

 pisquei os olhos e fui imerso pelos pensamentos e lembranças. Me apareceu então uma maior lembrança, a gente rindo de alguma piada sem graça minha, seu sorriso me tomava os olhos como uma planta carnívora que atrai o pobre inseto para uma armadilha mortal. Seus olhos quase se fechavam quando ria, então passava uma mecha de cabelo para trás da orelha e inclinava o rosto uns 60º para baixo, fechando o sorriso lentamente e deixando apenas um rastro do que antes era mais resplandescente do que a própria luz solar. Abri os olhos e continuava parado ali. Suspirei sem pulmões, meu coração parara de bombear há uns dois segundos. Meu cérebro já começara a falhar, minha visão embaçada, não sentia mais meus dedos. Meus dedos… Pisquei novamente e lembrei dos meus dedos percorrendo teu corpo, desenhando a tua silhueta, deslizando pelo nosso suor ameno. Abri os olhos. As luzes começaram a se apagar e então veio a sensação. Aquela sensação da vida se esvaindo pouco a pouco, acabara a sensação de pertencimento à essa encarnação, era só eu e o zumbido, aquele zumbido agudo que dificultava ainda mais ouvir ao fundo aquela música, a nossa música. Pisquei. Vi a nossa ultima conversa, você chegou diferente, senti assim que abri a porta. Não havia sorriso, nem rastro de sorriso. Apenas uma expressão opaca, incerta. Me falou daquele rapaz, que voltara de viagem há pouco. Me falou que por ele sentia um apresso enorme. Senti meus pés amolecerem, ou o chão estava se desfazendo. Só precisei ouvir mais quatro palavras. Eu nunca te amei. Me virei em passos lentos, deixei na poltrona os lírios que havia lhe comprado, uma puta ironia. Passei a porta e continuei andando, mas eu já havia morrido, morri naquela hora, quando me olhou, com seus olhos de felina, cheios de água e disse aquelas palavras. Ali jaz um coração embebido de amor. Passaram-se dias, semanas, então meses. Três meses. Três longos meses. Em que meu corpo vagou por aí sem alma e sem coração. Apenas guiado pelo mero instinto de sobrevivência. Até que me vi ali parado, com uma pistola calibre 38 na mão, apontada para onde devia estar meu coração. Queria ocupar aquele espaço com algo, talvez uma dor mais física do que aquela que eu estava sentindo. Puxei o gatilho. Pensei que seria rápido, mas naqueles 6 segundos antes de tudo se apagar, eu só pensei em você. Em nós. No nosso começo e no nosso fim. Naqueles 6 segundos eu ainda te amei.
- Autor Desconhecido

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