domingo, 22 de dezembro de 2013

Bater com o queixo no chão dói....

Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade. Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia, mais animo. Dóem essas saudades todas... Mas a saudade mais dolorida pra mim é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos, dos olhares. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabia que ele estava lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde estava. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se que haveria um encontro amanhã. Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno, nas noites frias. Não saber mais se ele continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa os presentes que você deu. se ele continua sorrindo, se continua dançando, bebendo..Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. Saudade é não querer saber, e mesmo assim parecer estar em um filme sem fim, onde cenas que te marcaram não saem da sua cabeça, é decorar aquele sorriso que você tanto gosta de olhos fechados. É não querer saber se ele está com outra, mas se ele está feliz, se ela é mais bela, se ele está mais magro. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
Continuo a me questionar por que os dias passam, junto aos que se foram. Poderia deixá-los para trás, esquecê-los. Estranho saber que, mais tarde, o meu futuro de hoje se tornará uma lembrança. Mais estranho ainda é assumir que eu vou sempre proteger essa esperança, mesmo que quase inteiramente remota.
A questão também não é reaparecer. Não é aguçar, atiçar. Não é mexer o açúcar concentrado no fundo do copo. Esse sentimento está dissolvido há muito tempo. Não tem altos e baixos. É como um espinho no coração: toda vez que ele pulsa, dói. Sem mencionar as músicas, que parecem perseguir meu caminho. Elas criam você. Retratam você. São você. E você fica vagando, permanecendo e ocupando cada espaço da minha mente. Isso dificulta o sono, cada dia mais...Você sabia que o céu só não é maior que o coração de um aviador? Pois é. Assim, minha esperança só não é maior que o meu amor. Deixo você no seu canto e fico no meu... Um dia eu ainda te ponho pra dormir de novo, beijo seu rosto e fico ali, te admirando, dormindo, tão sereno, tão lindo, tão você. Ai você me olha e esse espinho cessa a dor. E então continuo com toda essa aflição de te querer, de te amar de verdade, e não poder. Acho que me entende. Acho que sabe do que eu to falando...

- Thamyres Valente

Nenhum comentário:

Postar um comentário